
O Dia Internacional da Mulher Indígena é uma oportunidade para debater questões importantes como discriminação, violência de gênero, conservação da terra e valorização das línguas e culturas indígenas. As mulheres indígenas desempenham um papel fundamental na proteção de suas comunidades e no fortalecimento de suas identidades culturais.
Por: Equipe de Comunicação da REPAM
É válido recordar e exaltar o papel desta celebração em nível da nossa Pan-Amazônia, pois ela é reconhecida como um espaço para apoiar a autodeterminação e os direitos humanos nas comunidades nativas, bem como a importância da inclusão e do respeito à diversidade cultural. No território pan-amazônico, as mulheres ocupam uma posição social influente nas assembleias comunitárias e na tomada de decisões pelas autoridades locais; contudo, são comuns situações relacionadas à violência de gênero e à violência sexual; persistem, na maioria dos casos, cenários de marginalização no acesso a cargos de representatividade, e os conflitos por posse da terra vulnerabilizam ainda mais as mulheres.
A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e o núcleo Mulheres e Amazônia organizaram o webinar “Resiliências das mulheres indígenas na Pan-Amazônia diante das lutas em território”. Este espaço permitiu o encontro de diversas experiências pan-amazônicas, motivadas e sustentadas por mulheres indígenas e lideranças territoriais. A comunicação desde as bases, a luta pelo acesso à água como fonte de vida, a defesa dos direitos humanos e dos povos indígenas e a luta pela proteção territorial foram temas abordados durante o evento, nos quais as mulheres destacaram sua resistência e sua atuação social.


Mulheres indígenas pela Amazônia
As experiências que nascem da Amazônia e são lideradas por mulheres indígenas resultaram em diversas conquistas para povos e territórios. Um exemplo é o que ocorre no distrito de Punchana, região de Loreto, no Peru. A área enfrenta um grave problema de contaminação da água, o que vulnera direitos fundamentais, como saúde e vida. Aproximadamente 2.500 famílias são afetadas pela inexistência de um sistema de esgoto, bem como por resíduos provenientes de um hospital, de um posto de gasolina e de um frigorífico de gado. Ana María Saldaña, do Vicariato Apostólico de Iquitos, afirmou durante o webinar: “o sonho para mim, meus filhos e as futuras gerações é mudar a cultura dos nossos governantes. Basta de contaminar nossos rios”. Ela se referia às lutas das mulheres de Iquitos contra a degradação das águas da cidade.
Na Bolívia, destaca‑se a relevância dos processos impulsionados por mulheres das terras baixas, dentro das próprias comunidades, que evidenciam a constante luta em favor dos povos e do território. A experiência do Movimento Indígena das Terras Baixas, em sua luta por reconhecimento e território, contou com uma forte presença feminina. Um exemplo é a lideresa Catalina Iba, que atualmente integra a Associação de Mulheres Indígenas do Território TIM. Durante o webinar, reconheceu‑se a importância da luta e da filosofia mantida por essa associação para garantir a proteção integral do território ancestral, conforme transmitido por seus ancestrais. Cada um desses casos foi abordado pelo grupo de jornalismo indígena que atua como parte da gestão territorial do território TIM.
O panorama atual
Em 2020, a Unión de Mujeres Indígenas de la Amazonía Peruana (UMIAP) reportou que 80% das mulheres indígenas do Peru sofriam violência — seja sexual, física ou psicológica. No Amazonas, o cenário era parecido. No Brasil, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) destacou que o analfabetismo entre mulheres amazônicas era próximo a 10%, o dobro da média nacional, que era de 4,6%. Atualmente, o panorama continua próximo a esses números, e ações transformadoras são permanentes na busca pelo livre exercício dos direitos das mulheres amazônicas.
É importante abordar dinâmicas sociais relacionadas ao protagonismo; segundo a organização Mujeres en Acción, no território amazônico equatoriano, menos de 5% das mulheres ocupam cargos representativos. Por outro lado, em matéria de deslocamento forçado, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) destaca que 60% da população deslocada na Colômbia — desde o território amazônico rumo às cidades — são mulheres. A isso soma-se a situação agravada pela alta porcentagem de mulheres em idade gestacional e o limitado acesso aos serviços de saúde. As mulheres são um dos pilares que sustentam as dinâmicas da Amazônia e fortalecem seus processos. A REPAM ressalta a importância de continuar esse caminho que fortalece a luta pelos direitos das mulheres, das comunidades e do território.
