
No dia 21 de julho foi comemorado o 38.º aniversário da Páscoa dos Veneráveis Monsenhor Alejandro Labaka e da Irmã Inés Arango, missionários mártires da Amazônia equatoriana.
Por: Micaela Díaz – ADN CELAM
Quase quatro décadas após sua trágica morte nas mãos do povo tagaeri, enquanto tentavam estabelecer contato pacífico com comunidades não contactadas, sua memória continua sendo um farol na luta pela defesa da vida, dos povos indígenas e da casa comum.
Com o lema “ratificamos o compromisso em defesa da vida na Amazônia”, a Rede Eclesial Pan-Amazônica – Repam Equador, juntamente com o Vicariato Apostólico de Aguarico, divulgaram uma mensagem de comunhão e esperança que renovou o impulso evangelizador e profético desses dois missionários. Como expressou Dom José Adalberto Jiménez, bispo de Aguarico e presidente da Repam Equador: “Eles ofereceram suas vidas para salvar os povos não contactados. O povo Waorani, o povo Tagaeri Taromenane.”
Mártires da esperança, santos da Amazônia
Mons. Labaka e a Ir. Inés Arango foram assassinados em 21 de julho de 1987, após adentrarem a selva para proteger comunidades indígenas ameaçadas pela expansão petroleira e pela pressão externa. Seu martírio foi reconhecido pelo Vaticano em 22 de maio de 2025, quando o Papa Leão XIV os declarou Veneráveis, ao reconhecer que entregaram suas vidas “por amor à caridade”.
Para Dom Jiménez, esse gesto de entrega é uma orientação atual para a missão da Igreja na Amazônia: “Nós nos unimos a essa grande celebração hoje porque o Papa os nomeou veneráveis, e são os santos da nossa Amazônia que nos ensinam a oferecer a vida. Porque eles deixaram esse legado: ‘Se não formos nós, matam eles’”, recordou.
O legado continua vivo
A mensagem de Dom Jiménez também trouxe denúncias sobre as múltiplas ameaças que ainda pesam sobre a Amazônia: “Hoje continuam existindo tantas realidades de morte na Amazônia por causa da contaminação ambiental causada pela mineração ilegal que polui os rios, o desmatamento das árvores, e também as más práticas na extração de petróleo. Há muitos vazamentos de petróleo e, por isso, a Igreja também se une em defesa e cuidado da Casa Comum”, declarou.
Diante desse contexto, o testemunho dos veneráveis é um chamado urgente à ação. A partir da Repam Equador, foi feito um convite para continuar “tecendo redes, criando esses nós que nos permitem trabalhar juntos em defesa da Casa Comum”, como reiterou Dom Jiménez. “Que Alejandro e Inés nos acompanhem”, finalizou, evocando o fogo missionário que ainda inspira tantos na região pan-amazônica.
Caminhada de entrega e fé
Como parte da comemoração, no último dia 15 de julho foi realizada a tradicional Caminhada de Alejandro e Inés, uma jornada organizada pela Repam Aguarico, que reuniu comunidades, agentes pastorais, jovens e líderes sociais. Foi um espaço de encontro, espiritualidade e reflexão, que articulou o testemunho do martírio com a atual luta por justiça ecológica. Nas redes sociais foram compartilhadas imagens da caminhada, com faixas, cantos, orações e a presença viva daqueles que ainda acreditam que outro modelo de desenvolvimento é possível para a Amazônia.
“Obrigado a todos que se uniram a esta caminhada pela justiça e pela paz”, expressou a organização em suas plataformas. A caminhada não apenas reviveu o trajeto físico que um dia empreenderam Mons. Alejandro e a Ir. Inés na selva, mas se converteu em uma metáfora do caminho eclesial sinodal e territorial, uma marcha conjunta em defesa da vida.
Mártires da Amazônia
A entrega de Mons. Labaka e da Ir. Inés transcende o Equador e se insere no coração da Igreja com rosto amazônico, como fonte de inspiração para missionários, povos indígenas, líderes ambientais e comunidades eclesiais de base na Bolívia, Peru, Brasil e Colômbia. “Eles semearam em nós o grande compromisso de cuidar da casa comum, de cuidar dessa querida Amazônia como nos pediu o Papa Francisco e como a Repam tem feito”, afirmou Dom Jiménez. E é que seu martírio, como o de tantos profetas esquecidos da terra, é semente de vida, semente de justiça, semente de Evangelho.
Em meio aos desafios atuais, sua voz ainda ressoa: “Se não formos nós, matam eles”. Como uma opção radical pela vida. Porque na Amazônia, evangelizar significa também proteger, defender e amar a vida onde ela é mais vulnerável.