
Mais do que um encontro de 7 sessões, o curso sobre a água na Amazônia, promovido pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e realizado entre 18 de junho e 30 de julho, tornou-se um espaço de escuta e reflexão sobre realidades, problemáticas e alternativas que reconhecem a água como fonte e garantia de vida. A sessão de encerramento, no último dia 30 de julho, abordou o tema “experiências territoriais e propostas políticas em torno da defesa da água”.
Por: Equipe de Comunicação da REPAM
Após sete semanas foi concluído o curso “Água e Vida na Pan-Amazônia: resistência, direitos e esperança”. Desde a secretaria executiva da REPAM, Diego Aguiar, que fez parte da equipe coordenadora do curso, destacou que o espaço foi “uma experiência única de aprendizagem em rede”.
As conclusões que surgem a partir deste espaço promovido pela REPAM através do núcleo temático Justiça Socioambiental e Bem Viver estão centradas na perspectiva da ecologia integral e oferecem um olhar sobre a situação da água na Pan-Amazônia: o panorama social vivido, os casos de violação de direitos relacionados às fontes de água, as experiências de luta em torno desse recurso e a legislação. Entre as instituições envolvidas no desenvolvimento do curso, destacam-se a Vicaría del Agua do Vicariato Apostólico de Iquitos e o Centro de Innovación Científica Amazónica – CINCIA (ambos do Peru), o Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES e a Cátedra Laudato Si’ – Universidade Católica de Pernambuco (ambos de Brasil), a Associación de Universidades confiadas a la Compañia de Jesús em América Latina – AUSJAL e o Conselho Episcopal Latinoamericano – CELAM. O curso consolida uma parte importante da campanha de incidência internacional “Água: vida, direitos e futuro na Amazônia”, impulsionada pela REPAM.
Desde a Venezuela, no estado Amazonas e no Vicariato Apostólico de Puerto Ayacucho, Narcisa Pereira manifestou que o desenvolvimento das sessões foi importante como ferramenta de formação nas próprias comunidades. “Para nós, povos indígenas, a água é muito importante”, afirmou. Narcisa também destacou que 62% da água da Venezuela tem grande influência no estado Amazonas. Por isso, avançar na reflexão sobre a defesa e proteção das fontes de água é fundamental para os territórios e para o mundo inteiro.


Um recurso ameaçado pela economia
Yolima Salazar, diretora executiva da Vigararia do Sul em Caquetá, Colômbia, que foi palestrante na sessão de encerramento do curso, compartilhou a experiência de defesa do território e resistência por parte do campesinato amazônico durante a intervenção mineradora e energética na selva de Caquetá. “Quando a exploração de petróleo foi declarada de utilidade pública, as comunidades disseram não. Elas se organizaram em Comissões pela Vida da Água”, afirmou Yolima Salazar aos participantes da sessão. Dessa experiência, destacam-se alternativas de desenvolvimento, como as chácaras amazônicas, a agrofloresta, o resgate de sementes nativas e os mercados camponeses.
No departamento de Caquetá, também existe expansão da pecuária tradicional que, pela forma como é implantada, gera uma constante degradação do solo e perda das fontes hídricas. O desmatamento de espécies florestais para o plantio de capim desequilibra o ecossistema, provocando a perda de riachos e pequenos cursos d’água. Desde o território Marleny Yucuma destacou que, em seu caso, o curso Água e Vida na Pan-Amazônia permitiu aprender a reconhecer o território que se habita e entendê-lo como uma zona cheia de vida e abundância.
A riqueza que diversos setores econômicos identificaram na Pan-Amazônia tem motivado uma série de atividades predatórias que degradam as florestas e impactam diretamente as fontes de água. O ecossistema é visto como um todo — um espaço de equilíbrio onde os diferentes seres não apenas convivem, mas mantêm garantias de vida essenciais para a região e para o planeta. “Aprendemos a não ficar parados, a agir e a defender a água, esse líquido precioso que temos”, afirmou Marleny Yucuma, que também se referiu ao legado do Papa Francisco na defesa do meio ambiente: “Para ele, o território é sagrado, assim como nosso Pai Criador é sagrado, e vemos Seu rosto vivo na natureza”, declarou.


Empatia e conhecimento das causas
Outra das experiências apresentadas durante a sessão de encerramento veio de Rondônia, no Brasil. Tanã Mura, jovem indígena, abordou o caso do rio Madeira e das hidrelétricas que o degradam em seu território. “O rio Madeira é o nosso rio ancestral, mas os projetos de desenvolvimento nos trouxeram destruição… não é só água. É vida, memória, espírito. É nossa casa”, afirmou o jovem indígena. O Instituto Madeira Vivo, junto com o coletivo Mura e o movimento indígena de Rondônia, mantêm sua luta contra o impacto da usina hidrelétrica no rio Madeira.
Marilez Tello, jornalista da Rádio Ucamara, em Nauta, Peru, relatou parte do processo que o povo Kukama (majoritário em seu território) tem seguido na defesa da água e do território. Vale destacar que a Associação de Mulheres Kukama-Kukamira, presente na região, foi responsável por impulsionar o reconhecimento do rio Marañón como sujeito de direitos. Marilez Tello explicou que o povo Kukama tem defendido seu rio por meio da cultura, da espiritualidade e da memória coletiva. A Rádio Ucamara iniciou um processo de mapeamento que recolhe a forma de ver o mundo segundo os Kukama e permite dialogar com as linguagens jurídicas a partir de sua própria cosmovisão.
Para Valdênia Paulino, desde a Amazônia brasileira, reunir pessoas de diferentes pontos da extensa Pan-Amazônia é importante para uma verdadeira integração. Um dos acertos do curso virtual Água e Vida na Pan-Amazônia é incentivar o uso de plataformas virtuais nos diversos territórios, já que, muitas vezes, a mobilização até um único local é complicada. Conhecer o uso capitalista que se faz da água permite aprofundar nas consequências e impactos gerados.


Campanha da água: “Água: Vida, Direitos e Futuro na Amazônia”
Com o objetivo de ressaltar a grande importância da água para as comunidades amazônicas e a interconexão entre os direitos humanos e a preservação desse recurso essencial. Diante da crescente escassez e contaminação das fontes hídricas na região, a REPAM destaca a urgência em implementar ações fundamentais para a proteção da água. Dentre as iniciativas propostas, estão a educação e conscientização das comunidades locais, a mobilização social para pressionar governos e empresas, e a criação de mecanismos de monitoramento para denunciar violações dos direitos relacionados à água.
“Água e Vida na Pan-Amazônia: resistência, direitos e esperança” projeta a inclusão de ferramentas baseadas na experiência, nas leis vigentes e no sentir daqueles que habitam a Pan-Amazônia — nas lutas que já estão em curso e nas que ainda virão para defender a água, a vida e o próprio território.
Compartilhamos com você uma playlist com todas as sessões do curso: https://www.youtube.com/watch?v=gHnA7p0Q14&list=PLzlcvg4GuiUYT9RqbkghvhBedduzZXzje. Acesse e compartilhe!