Encontro da REPAM em Manaus busca respostas como Igreja diante do processo de empobrecimento dos povos

Foto: Pe. Julio Caldeira

Nesta semana acontece em Manaus o encontro do Núcleo de Direitos Humanos e o Comitê ampliado da REPAM.

Por Luis Miguel Modino

A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) está se reunindo em Manaus, onde está atualmente sediada, durante toda esta semana. O Núcleo de Direitos Humanos e o Comitê ampliado se reunirão de forma híbrida, com um grupo presencial e outros participantes virtualmente, de 8 a 11 de novembro.

No caso do Núcleo de Direitos Humanos, o encontro pretende responder a dois desafios, de acordo com o Padre Peter Hughes. Como membro da coordenação, ele considera que desde o início, a REPAM compreendeu a necessidade de “estabelecer um caminho para poder acompanhar os líderes e grupos indígenas da Amazônia, a fim de alcançar mudanças efetivas”. Neste sentido, o missionário columbano, que mora no Peru, enfatiza que “o trabalho com direitos humanos é básico, porque os direitos são a base para produzir mudanças”.

Padre Peter Hughes

Padre Hughes enfatiza que “nos últimos dois ou três anos, a REPAM deu um enorme passo em frente, com o reconhecimento cada vez mais importante por organismos internacionais, como as Nações Unidas, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e, mais recentemente, a Organização dos Estados Americanos“. Isto é visto como algo que “a REPAM, com base em sua experiência, tem significado apoio a estes organismos internacionais”.

Com relação à própria REPAM, o membro da Coordenação do Núcleo de Direitos Humanos pede que isso seja “internalizado pela própria REPAM“. Isto porque “os direitos humanos são a espinha dorsal da REPAM“, insistindo em “trabalhar cada vez mais sobre o significado dos direitos humanos na própria evangelização, no coração do trabalho pastoral e da mensagem cristã”, superando a ideia de que os direitos humanos não fazem parte do nervo central da mensagem cristã.

O religioso fez um chamado a não esquecer que “biblicamente, os direitos dos pobres são os direitos de Deus”, o que nos leva a entender que “uma leitura da Carta Fundamental dos Direitos Humanos de 1948 também deve se basear na revelação das histórias bíblicas”, algo muito importante para avançar com base no que o Sínodo para a Amazônia declarou, que vê que os direitos humanos “não é apenas uma coisa política importante ou um dever social, mas é uma exigência de fé”. Ele também destaca “a percepção de que a ecologia integral, que é responder ao grito da Terra e ao grito dos pobres, está integrada”, descobrindo que “este não é apenas mais um caminho, mas o único grito que existe para a Igreja“. 

Núcleo de Direitos Humanos da REPAM assume o desafio de “acompanhar o território a partir de suas necessidades e realidades”, e junto com isso “articular todos os esforços de todas as igrejas, instituições que estão neste caminho de defesa das comunidades indígenas, trabalhando em equipe, em rede, todas com a mesma visão”, afirma Lily Calderón. Em nível pessoal, a membro da Coordenação do Núcleo de Direitos Humanos da REPAM considera que é “uma perspectiva diferente e um profundo compromisso com uma opção preferencial para as comunidades, o que não é fácil nesta globalização”. 

Os povos amazônicos são os principais atores dos direitos humanos no território amazônico, “por eles, para eles e com eles”, insiste Lily Calderón. Neste sentido, ela enfatiza que a defesa da dignidade da pessoa humana é algo presente nas Constituições dos países que fazem parte do território amazônico, lembrando que “em Querida Amazônia esta ideia também se repete e deve ser a base central, o eixo principal de todas as atividades a partir de uma perspectiva de direitos humanos na Amazônia“. 

A partir daí, entende-se que “nosso objetivo, nosso caminho, todos os nossos esforços visam assegurar que estas comunidades tenham sua identidade reconhecida, que seus direitos e dignidade sejam defendidos, mas eles são os principais atores. Nós vamos atrás deles, promovendo-os, acompanhando-os, mas são eles que finalmente decidem seu desenvolvimento a partir de suas realidades, de sua cultura. E todas as propostas de desenvolvimento têm que ser implementadas e desenvolvidas a partir deles”.

Sonia Olea e Lily Calderón

Caritas Espanhola faz parte deste núcleo, “um compromisso que a Caritas Espanhola tem tido desde sua fundação, sua presença na América Latina“, diz Sonia Olea, que vê isto como algo histórico. Neste sentido, “quando começamos a sonhar com a Rede Eclesial Pan-Amazônica e a forma como trabalhamos, foi também um compromisso de mudança interna para nós”, e Olea destaca que “fazer parte da Rede Eclesial Pan-Amazônica mudou nossa forma interna de trabalhar”.

Uma presença que é consequência do fato de que “historicamente a Cáritas quis estar onde os direitos são violados na América Latina, mas também porque viu o momento histórico de outra Igreja, e foi um privilégio poder estar lá naquele momento”. Nas palavras de Sonia Olea, “esta é a razão pela qual eles continuam a se envolver com o pessoal liberado para estar neste espaço”.

Um comité executivo da REPAM que acontece de modo presencial depois de um longo período de pandemia que fez com que tudo fosse em modo virtual. Nesse sentido, o Irmão João Gutemberg Sampaio destaca que “o encontro é sempre algo maravilhoso e depois de tanto tempo de jejum de encontros, nos traz uma motivação muito grande querermos encontrarmos”, mesmo sendo um grupo reduzido, dado o alto custo que representa o deslocamento, algo que se acentua neste momento de crise que vive a humanidade.

João Gutemberg Sampaio

Segundo o Secretário Executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica, o encontro é motivo de alegria e oportunidade de “poder continuar essa caminhada sinodal de discernimento, que vem a partir dos diálogos, do encontro, do reencontro, de celebrar juntos”. Um encontro que tem como desafios o fato de “vivermos um grande processo de empobrecimento dos povos e de evasão das culturas, de sofrimento, e a Igreja é a grande defensora da vida”. 

Nesse sentido, o Irmão Marista insiste em que “nosso compromisso é com a vida, é estar muito mais conectado com as propostas de vida”, algo que vê como custoso, desafiador, “porque nem sempre vai com o pensamento social dominante, que muitas vezes é de exploração, sobretudo na Amazônia, onde é muito forte o tema do extrativismo a todo custo para o esgotamento dos recursos naturais, que nós entendemos que são bens comuns que precisam ser cuidados”. Finalmente destaca uma dupla dimensão: “a dimensão da pessoa e dimensão do ambiente, que precisamos estar sempre atentos, discernindo e vendo como organizar as ações”.

Comité Ampliado da REPAM terá como ponto de partida a análise de conjuntura sociopolítica e eclesial da Pan-Amazônia e da Síntese do Monitoramento do Plano Pastoral, buscando caminhos para uma melhor implementação tendo em conta as urgências para 2023. Tudo isso em vista do Sínodo sobre a Sinodalidade e desde o trabalho conjunto entre a Rede Eclesial Pan-Amazônica e a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).