
De 11 a 14 de maio, a cidade de Iquitos foi o cenário do encontro de representantes de seis comunidades indígenas, dos povos Kukama e Tikuna, situadas na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, dentro do território pan-amazônico. A reunião foi realizada no marco do encerramento do projeto “Kukama-Tikuna-Magüta”, promovido pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), Grupo Comunicarte e Fundação IPSA.
Por: Equipe de Comunicação da REPAM
A comunicação é um campo tão amplo que abrange uma série de experiências de diferentes grupos sociais. No caso da Pan-Amazônia, cada uma das manifestações culturais, os relatos e as narrativas dos povos indígenas estão associados a formas de fazer comunicação que são importantes para reivindicar o valor da sabedoria e dos modos de vida indígenas. No projeto “Kukama-Tikuna-Magüta”, foi traçado um caminho em que a cosmovisão e suas formas de transmissão oferecem as ferramentas para construir estratégias comunicativas que defendam o cuidado com a Pan-Amazônia.
Uma rede de comunicadores indígenas
O evento de encerramento do projeto confirmou a criação de uma rede de comunicadores indígenas, situados na área de influência do triângulo fronteiriço Brasil-Colômbia-Peru. Por meio de suas dinâmicas sociais, formas de interação e vivências — somadas a uma série de conceitos trabalhados ao longo do processo de acompanhamento —, esses comunicadores contam com um conjunto de ideias que convidam à reflexão e à mobilização diante dos problemas socioambientais e culturais que ocorrem em seus territórios. Um total de 24 membros das comunidades de Belém do Solimões, Sapotal, Nazareth, San José del Río, Yahuma e Nauta foram acompanhados por facilitadores que, durante 10 meses, conduziram o processo de formação.
Além disso, foi construída uma estreita relação com as rádios Ucamara e Auma, pertencentes aos povos Kukama e Tikuna, respectivamente. Ambos os meios, com um enfoque comunitário, realizam processos de acompanhamento a diferentes setores sociais dentro de suas comunidades e veem no grupo de comunicadores indígenas já mencionado uma forma de fortalecer seus processos de incidência.




Relatos e narrativas
A cosmovisão e a sabedoria ancestral dos povos indígenas são a base para a promoção do cuidado com a Pan-Amazônia; pelo menos foi assim compreendido durante a execução do projeto “Kukama-Tikuna-Magüta”. Cada forma de expressão e de comunicação ancestral revela uma série de dinâmicas para viver em harmonia com o território, preservar seu equilíbrio e promover as garantias de vida para o planeta. Como já afirmou o Papa Francisco na exortação apostólica Querida Amazônia: “A sabedoria dos povos originários da Amazônia inspira o cuidado e o respeito pela criação, com clara consciência de seus limites, proibindo seu abuso.”
Nesse sentido, as reflexões e ações realizadas por meio da comunicação promovida pela REPAM e seus aliados na Pan-Amazônia devem orientar-se pelo respeito e pelo cuidado com o território. Os relatos, os saberes, os mitos e as lendas fazem parte do que deve ser valorizado e amplificado, para que o sentido de mudança e a luta pelo território pan-amazônico sejam interiorizados em diferentes contextos ao redor do mundo.
O mapeamento territorial, uma metodologia promovida pela Rádio Ucamara em parceria com diversas populações indígenas, foi aplicado durante o encontro realizado na cidade de Iquitos e tem sido a forma concreta de registrar relatos e histórias dos povos indígenas. Dessa maneira, são realizadas leituras e reflexões sobre a realidade social, os problemas socioambientais e as ações que ameaçam a cultura própria dos habitantes da Pan-Amazônia.




O encerramento de uma primeira etapa
Os processos de acompanhamento no território Pan-Amazônico devem considerar uma duração adequada. Não basta gerar as primeiras reflexões sem dar os passos necessários para que a incidência e a mudança aconteçam na imensa floresta amazônica. Por isso, o desenvolvimento da primeira fase do projeto “Kukama-Tikuna-Magüta” assumiu a tarefa de manter o acompanhamento das comunidades já envolvidas, das rádios com enfoque comunitário participantes, e de integrar comunidades vizinhas que não pertencem apenas aos povos Kukama, Tikuna ou Magüta, mas também manifestaram o desejo de trabalhar com outros povos amazônicos.
A projeção da REPAM e do Conselho Católico de Meios de Comunicação (CAMECO), principal parceiro na execução do projeto, é traçar as alianças necessárias para continuar fortalecendo esse acompanhamento, no qual os representantes dos povos indígenas amazônicos encontrarão, na comunicação, uma forma de incentivar a defesa da Pan-Amazônia e de seus habitantes.



