REPAM junto com a Caravana dos Direitos Humanos, testemunha violações de direitos, ameaças, omissão e resistência no território Sateré Mawé

Nos dias 6 e 7 de agosto de 2025, a Caravana de Direitos Humanos visitou a Terra Indígena Andirá-Marau, do povo Sateré Mawé. A Caravana é uma iniciativa coletiva de organizações da sociedade civil que vem sendo realizada nos últimos anos em diferentes localidades, com o objetivo de iniciar processos de escuta nas comunidades, registrar e documentar denúncias de violações de direitos e planejar estratégias para enfrentar essas violências.

Por: Comissão da Rede Itinerante Amazônica

A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) fez parte do processo que visitou, escutou e se aprofundou nessas ameaças, que tiram o sono de líderes indígenas que, mesmo ameaçados, continuam na defesa dos territórios. Hoje em dia, contam com o apoio de organismos como os representados pela Caravana dos Direitos Humanos, que se deslocou até o território Sateré-Mawé com a missão de ser um ouvido atento, um coração acolhedor e um ombro amigo para os tuxauas, autoridades indígenas, que puderam se desabafar e aliviar o peso que carregam diariamente em seus territórios.

Durante a visita, um dos tuxauas declarou: “Viemos aqui chorar para que vocês nos escutem e nos ajudem a continuar lutando pelos nossos direitos garantidos na Constituição Federal.” É impressionante como o povo Sateré-Mawé do território Andirá Marau está organizado; cada grupo busca fortalecer os demais. A barreira de proteção e segurança tem corajosamente arriscado a vida para defender o território contra invasores, que muitas vezes ameaçam aqueles que garantem a segurança, colocando em risco suas próprias vidas. Atualmente, são poucos os apoios que recebem.

A Barreira Sanitária e de Monitoramento do Povo Sateré-Mawé (BSMPSM) não busca apenas proteger o território contra as invasões, mas também está comprometida com a vida do povo, tratando de políticas públicas como saúde e educação, que também foram enfraquecidas e esquecidas pelo Estado. As autoridades, em conjunto, redigiram uma carta com suas denúncias e pedidos de apoio, que a caravana torna pública à sociedade, sendo respaldo e garantia na construção de alianças e caminhos de libertação diante de tantas ameaças que, dia após dia, tentam impedir sua atuação na proteção e defesa dos territórios.

Entre os gritos que foram levantados, citamos alguns que deveriam ser ouvidos além de Maués, para que esses povos sejam atendidos pelos órgãos competentes e para que estes se sensibilizem com a causa. Estes são os clamores que os tuxauas levantaram, surgidos do mais profundo de seus territórios, onde vivem e resistem todos os dias. A carta final, elaborada por lideranças e entidades participantes, reúne um conjunto de demandas consideradas urgentes para a sobrevivência física e cultural do povo Sateré-Mawé. Entre elas, destacam-se:

  • Reconhecimento oficial e institucionalização da Base de Monitoramento, com segurança jurídica, formação dos monitores, fornecimento de equipamentos e fiscalização contínua por parte dos órgãos públicos competentes.
  • Fortalecimento da saúde indígena, incluindo a contratação e capacitação de profissionais, melhoria no abastecimento de água, mitigação dos impactos da seca, fornecimento regular de medicamentos, atendimento odontológico e transporte adequado para remoção de pacientes.
  • Educação escolar indígena de qualidade, com construção e reforma de escolas, materiais didáticos adequados, capacitação e formação de professores, e alimentação escolar adaptada à cultura e aos hábitos alimentares do povo Sateré-Mawé.
  • Programas para a juventude indígena, com oportunidades de profissionalização, geração de renda, apoio a pessoas com dependência química e incentivo para que os jovens permaneçam no território.

As lideranças do povo Sateré-Mawé fizeram um reconhecimento público do apoio que têm recebido de organizações não governamentais. Ressaltaram que a barreira de proteção, que começou de forma provisória há quase cinco anos, continua funcionando graças ao apoio dessas organizações. Por isso, desejam ser reconhecidos em nível federal e internacional. É impressionante ver o compromisso de várias lideranças com boa vontade, e é urgente a formação, a assistência e o empoderamento dessas pessoas que tanto necessitam. A REPAM, assim como as demais organizações presentes na caravana, se compromete a apoiar os processos formativos no território, a divulgar esses clamores à sociedade, a ser uma presença solidária, a realizar visitas ao território e, na medida do possível, continuar acompanhando, a partir da diocese de Parintins, essas comunidades Sateré-Mawé presentes no município de Maués.

2 de setembro de 2025