Cardeal Cláudio Hummes na abertura da Assembleia Plenária da CEAMA

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O presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), Cardeal Dom Cláudio Hummes, O.F.M., realizou a abertura da segunda Assembleia Plenária na manhã desta segunda-feira, 13 de dezembro de 2021, que está sendo realizada de maneira híbrida, com uma representação presencial e outra de maneira virtual.

Leia, a seguir, a mensagem completa:

Abrindo esta Assembleia Plenária da Conferência Eclesial da Amazônia, a CEAMA, quero declarar bem-vindos e saudar com alegria todos os participantes, senhoras e senhores, irmãos e irmãs. Saúdo de modo especial os Senhores Cardeais – particularmente Cardeal Pedro Barreto, presidente da REPAM – os senhores Arcebispos e Bispos, Prelados e Vicários de Vicariatos – presbíteros, diáconos, consagrados e consagradas, os representantes dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, agentes de pastoral, as mulheres dirigentes de comunidades locais, catequistas, enfim e com destaque os que estão no território levando em frente a realização das indicações do Documento final do Sínodo para a Amazônia e da Querida Amazônia do nosso querido Papa Francisco. A todos saúdo no Senhor Jesus Cristo, que com seu Espírito Santo, ilumina esta Assembleia, para a glória de Deus Pai.

Com certeza, se estamos hoje aqui é porque todos queremos que a CEAMA não seja um mero ornamento. Não! Ao contrário, deve realizar na prática os seus objetivos. Por esta razão, todos perguntamos: o que estamos realizando na prática? De modo particular, perguntamos: como estamos cuidando da Panamazônia, do seu território e da sua gente, especialmente dos povos indígenas e de seus direitos? A CEAMA importa e faz alguma diferença? A resposta é: Com certeza, a CEAMA importa e faz diferença. Sim, nas bases, no território, nas comunidades, muita coisa está se realizando. O que se quer nesta assembleia plenária é encorajar a todos a continuar. E, com a nossa metodologia, ou seja, ir às bases, escutar, propor as indicações do sínodo e então com as bases avançar, como sempre fizemos, desde a criação e a atuação da REPAM. Quando olhamos para trás, podemos dizer com sinceridade: “Valeu a pena”. E continua a valer a pena.

A CEAMA está sendo o grande passo para a frente. Agradecemos de coração ao querido Papa Francisco a aprovação canônica da CEAMA, dia 9 de outubro passado. A partir daí, a CEAMA é uma instituição com personalidade jurídica eclesiástica. E assim, se tornou aquele ponto firme, que valida nosso trabalho de modo novo e eficaz. Além disso, dá ao Papa oportunidade para criar outras Conferências Eclesiais pelo mundo afora. “Eclesiais”, vale repetir, significa cujos membros efetivos não são apenas bispos, mas também representantes de todas as outras categorias do Povo de Deus. Para tanto, estamos aos poucos terminando de formular um Regimento Interno que forneça regras práticas de como fazer isto.

Retomando a questão do trabalho no território em toda a Panamazônia, é fundamental que continuemos unidos em rede. Sabemos que isso é exigente. Parece mais fácil planejar e trabalhar isolados em nossas próprias comunidades. Mas uma Igreja sinodal e “em saída” nos convoca para não nos dispersarmos. Sínodo significa “caminhar juntos”, respeitando as nossas diferenças.

Este “caminhar juntos” exige também comunicar-nos sobre o que fazemos e como fazemos. Por isso, a CEAMA é este organismo que pede informações, “socializa” o que cada um faz em sua área, repropõe objetivos, recorda as propostas e os sonhos provenientes do sínodo para a Amazônia, reúne periodicamente em assembleia a Igreja na Pan-amazônia, e, através da elaboração e da prática de um Plano Pastoral de Conjunto, procura manter vivo o processo eclesial que o sínodo pôs em marcha. Este plano em parte já está elaborado e vem sendo proposto em cada país panamazônico e ali concretizado, repito “respeitando as diferenças”. Outras partes deste plano continuam em elaboração, priorizando as urgências e os temas mais essenciais para o processo de cuidar e evangelizar a Amazônia e seus povos, rejeitando a tentação da colonização.

Para evitar esta colonização, uma das tarefas principais, é a inculturação da fé nas muitas culturas originárias dos povos amazônicos, levando em conta também a interculturalidade que evita a pretensão de uma cultura se julgar mais avançada e portanto prevalente. Será um processo a médio e longo prazo, perdurando gerações. A CEAMA já tem uma comissão promovendo esta inculturação. Nesta área, podemos imaginar como será importante a formação adequada dos nossos futuros missionários e missionárias para a Amazônia e a formação de candidatos indígenas para os ministérios ordenados. É urgente e por isso seria importante reunir os bispos amazônicos, com a participação de indígenas, para refletir sobre este tema e unir forças. Como não sonhar com uma Igreja Católica Indígena, isto é, que tenha seus próprios pastores indígenas, (bispos, padres e diáconos), inculturada, unida ao Papa na Igreja universal e que possa tornar-se a principal evangelizadora dos povos indígenas amazônicos, seja urbanizados seja vivendo na área rural ou na floresta.

No momento atual, urge também desenvolver nas populações locais amazônicas, por um lado, o empenho de denunciar e combater o desmatamento e, de outro, realizar, onde possível, o reflorestamento.

E, por fim, hoje cresce um clamor justo e angustiado por causa do abandono sanitário, educacional, médico e nutricional do povo yanomami, em território brasileiro, especialmente de suas crianças. As informações e denúncias falam de situação inadmissível e desumana.

Termino, convocando mais uma vez todos a “caminhar juntos” , respeitando nossas diferenças. Continuemos em rede. A CEAMA precisa de todos vocês para cumprir seus objetivos, em favor do cuidado e da preservação do território panamazônico e de uma evangelização “em saída” e inculturada de sua gente.

Obrigado pela atenção! Que Deus abençoe a todos!

Cardeal Dom Cláudio Hummes, O.F.M.

Presidente de la CEAMA